Últimas

Saguão do Teatro

Nestas duas últimas semanas a Ilha de Vitória recebeu o evento Aldeia Sesc, coordenado com muita responsabilidade e profissionalismo por Colette Dantas. O festival de teatro e dança teve a participação de grupos locais e espetáculos do circuito Palco Giratório.

Nós do grupo Repertório tivemos a oportunidade de apresentar “Bernarda, por detrás das paredes” em duas versões: no casarão que sedia nosso grupo e no Teatro Carmélia. Um desafio delicioso que nos proporcionou a apresentação de um “novo” espetáculo, onde Bernarda e suas cinco filhas feias exploraram a arquitetura e a maquinaria do grande palco do Carmélia.

As apresentações foram debatidas no “Reflexões Cênicas” por profissionais do Sesc que esmiuçaram nosso espetáculo com muita delicadeza e precisão.

Outro momento importante para o grupo foi o “Trocando em Miúdos” com a Cia In.Co.Mo.De-Te (RS), um dia inteiro de trocas de experiências no Espaço Coletivo Folgazões e Repertório. Recebemos também as meninas do Caixa do Elefante (RS) e Fabiano Barros (RO) para um café da manhã e muito bate-bapo sobre teatro. Outra presença ilustre foi Zé Manuel do SESC Pernambuco(PE).

Um evento maravilhoso que acrescentou muito à trajetória do grupo Repertório Artes Cênicas e Cia.

E a apresentação de “Bernarda, por detrás das paredes” no Carmélia, pelo Aldeia Sesc, foi comentada em blog de Salvador (BA), rompendo as fronteiras do ES. Para ler, clique no link:

Crítica: Bernada por detrás das paredes (em Vitória – ES)

Sucesso na segunda temporada de “Bernarda, por detrás das paredes”

“Bernarda, por detrás das paredes” fez sua segunda temporada no teatro de bolso do Espaço Coletivo Folgazões e Repertório por três finais de semana de maio.

Apesar do pouco apoio da mídia local, foi um sucesso de público e crítica. É impressionante o retorno que o espetáculo têm, alguns estudiosos e admiradores de teatro escreveram notas sobre a peça.

Sem contar a crítica de Moisés Nascimento no Portal Yah da Rede Cultura Jovem que pode ser conferida aqui:

http://portalyah.com/fragmentosnaribalta/2011/03/10/pelas-paredes-da-casa-critica-a-peca-bernarda-por-detras-das-paredes-do-grupo-repertorio-artes-cenicas-e-cia/

Vejam alguns escritos desta temporada:

Matéria do site Agito Cult:

http://www.agitocult.com/2011/05/o-que-as-paredes-escondem.html

Crônica sobre “Bernarda, por detrás das paredes”

Bernarda, Nícolas e Roberta

(por João Moraes)

 

Lembro quando li pela primeira vez Federico Garcia Lorca. Tinha 17 anos e cursava o terceiro ano e pré-vestibular juntos lá no Rio de Janeiro, no cursinho GPI do Méier. Eu morava em Bonsucesso e todo dia me apinhava junto a mais umas cem pessoas num ônibus azul cujo número me foge a memória. Em frente à escola havia, indefectível, o bar do João. Corria o ano de 81 e com a anistia os exilados estavam voltando, entre eles o ídolo do João, Leonel Brizola.

Ele gostava tanto do gaúcho que tinha um pôster antigo dele escondido na cozinha do bar. Quando vi o quadro de sua devoção perguntei como se dera o inusitado apreço. Ele me contou que seu pai era espanhol e que havia lutado na guerra civil espanhola. João herdou do pai as convicções socialistas e acabou vendo em Brizola uma liderança com ares meio hispânicos.

Ali conheci o já poeta e futuro matemático, Jorge Petrúcio. Nós estudávamos e bebíamos juntos pelos subúrbios do Rio. Ele me apresentou Lorca enquanto a gente, pela primeira vez, compunha uma canção juntos; depois dessa primeira composição vieram muito mais parcerias. Petrúcio me apresentou o poema “As Seis Cordas”, que até hoje me embala a admiração irredutível e enche de soluços o velho peito.

“A guitarra faz soluçar os sonhos./ O soluço das almas perdidas/foge por sua boca redonda. E, assim como a tarântula,/tece uma grande estrela/para caçar suspiros que bóiam/ no seu negro abismo de madeira.”

Semana passada tive novo encontro marcado com Federico, mas nem imaginava que o encontro me encheria novamente os olhos de admiração e que me seria renovado o gosto pelo teatro. Fui assistir “Bernarda por Detrás das Paredes” lá no Coletivo Folgazões, Repertório e Cousa; num casarão vermelho que fica na ladeira de acesso para a Catedral Metropolitana. Lá as companhias de teatro Folgazões e Repertório se juntaram à editora Cousa e montaram um belo espaço que pode abrigar produções de bolso com elegância e bom gosto.

A montagem do espetáculo é da Companhia Repertório, que produziu uma bem pensada colagem de “A Casa de Bernarda Alba” de Lorca e “Arte Poética” de Aristóteles. São só 30 lugares por apresentação; 30 bocas abertas de admiração pelo talento exuberante dos atores Nícolas Lopes e Roberta Portela. Os dois incendeiam nove personagens num rodízio de almas sem trocas de figurinos.

Embalados por uma trilha executada ao vivo – composta por Dori Sant?Ana e arranjada por Fabio do Carmo -, Nícolas e Roberta despejam um turbilhão de linguagem teatral aos 30 incautos espectadores. Quase que dá para morrer de tanto que não se respira.

Há muito que não fico tão entusiasmado e feliz por ter saído de casa rumo a arte. Foi o último fim de semana da temporadinha que encenaram lá no Coletivo. Mas me garantiram que em bem pouco tempo retornam ao palco para nova temporada. Recomendo esse prazer a todos; e adiciono que façam como fiz: depois de ver Nícolas e Roberta, desçam até a Rua Sete e arrisquem umas cervejas. Talvez até sintam passar por ali um cortejo andaluz soprado por Lorca e encabeçado por Bernarda e suas cinco tristes filhas.

link para o jornal A Gazeta clique AQUI:

Apresentamos a logo da Repertório Artes Cênicas criada pela designer Anaise Perrone: